sexta-feira, 1 de maio de 2015

Game jams na cultura dos jogos indie (e o que aprendi ao participar de uma)


Game jams não são nenhumas estranhas para os desenvolvedores indie. Boa parte das pessoas que estão entrando na cena independente de uma forma ou de outra acabam participando de pelo menos uma edição, em algum lugar, em algum momento. Não é por menos: o sucesso e longevidade das game jams poderiam falar por si só, mas os frutos que esse tipo de evento oferece são bastante estimulantes para quem está começando agora. Isso, inclusive, é algo que agora eu próprio posso atestar - sim, cara leitora ou caro leitor que caiu de para-quedas neste blog, além de falar sobre jogos indie, também sou um aspirante na área do game design, e recentemente participei de uma game jam bastante produtiva.

Sendo assim, nada mais apropriado que falar no meu blog um pouco mais a respeito desses eventos que já são parte essencial da cultura de jogos indie e contar mais da minha experiência nessa área. Afinal, nada melhor do que poder dizer em primeira mão meus pensamentos e opiniões a respeito de um tema que incorpora o espírito indie dentro de si.

Para começar: o que são as game jams?

"Jam" é uma palavra do inglês utilizada para representar uma sessão onde pessoas se reúnem para realizar algo na base da improvisação. O termo surgiu no mundo da música: em uma sessão de jam, músicos se encontram e tocam seus instrumentos sem qualquer combinação prévia e sem seguir uma diretriz específica para aquele encontro. A sessão pode servir com treino, proporcionar uma reunião descontraída entre amigos ou mesmo acabar produzindo um material que será lançado oficialmente depois.

Participantes da Global Game Jam 2015, uma das maiores jams do mundo.

As game jams foram criadas para seguir esse mesmo espírito. Sua origem data do começo dos anos 2000, quando eventos como a Indie Games Jam e a Ludum Dare foram criados. Como numa sessão de música improvisada, em game jams pessoas ligadas à produção de video games, como game designer, programadores, artistas, entre outros, se reúnem para montar um jogo em um tempo pré-determinado (usualmente 48 horas, embora algumas jams optem por 24 e outras mesmo 72 horas), todos seguindo um tema central que só é revelado no começo do prazo para o desenvolvimento. O elemento surpresa do tema é fundamental: assim, valoriza-se o elemento da improvisação e a criatividade e capacidade de trabalhar sobre pressão dos participantes são testadas. Pode parecer quase sufocante no começo (e um tanto intimidador), mas a verdade passa bem longe disso. A maior parte dos participantes afirma, ao final das jams, ter se divertido intensamente com a experiência, e os resultados tendem a ser bastante interessantes.

Game jams são quase sempre competitivas, oferecendo uma quantia em dinheiro à equipe vencedora, mas, embora sem dúvida este seja um aspecto bastante atraente desses eventos, ele está bem longe de ser o mais importante. Jams são ocasiões sociais, antes de tudo, onde amigos têm a chance de se reunir em torno de um interesse comum - video games - para participar de um processo criativo e, quem sabe, formar os alicerces de uma parceria de longo prazo. Há também a oportunidade de desenvolvedores que não se conhecem expandirem suas relações sociais e, claro, jams propiciam um fim de semana onde ideias interessantes e proveitosas para novos jogos surgem em grandes quantidades.

Titan Souls, um dos hits indie deste ano, foi criado originalmente para uma edição da Ludum Dare em 2013.

Jogos como Titan Souls e TowerFall foram pensados durante game jams, e empresas indie como a Thatgamecompany (de Journey, Flow e Flower) foram ativas participantes de jams no começo de sua existência, dando uma mostra do potencial deste tipo de evento.

Minha experiência com uma game jam e o que descobri com ela

Participei recentemente da game jam criada pela Kolks Games, que reuniu mais de 70 equipes. Fui convidado por uma amiga e, junto com dois outros amigos, montamos um time rapidamente e dissemos sim ao desafio. As 48 horas que utilizamos para criar nosso jogo foram talvez as mais produtivas da minha vida, serviram como uma incrível injeção de ânimo em mim e com certeza vão ficar guardadas na minha memória por muito tempo.


O melhor aspecto da experiência foi termos conseguido finalizar nosso jogo, deixando-o bonito e funcional, totalmente dentro do prazo e sem grandes estresses (tirando aqueles momentos de tensão ou preocupação ocasionais deste tipo de proposta, mas todos rápidos e pontuais). Isso se deve, sem dúvida, em boa parte à boa dinâmica que tínhamos entre nós, participantes, mas também a uma série de decisões acertadas que tomamos antes de começar a pôr o projeto em prática, antes mesmo de sabermos o tema. Não que tenha sido perfeito, entendam: em função da nossa inexperiência, nosso cronograma nem sempre esteve dentro do prazo ideal (mas conseguimos compensar) e há espaço para polimento e melhorias em muitos aspectos do nosso ritmo de produção. Mas, como marinheiros de primeira viagem, sem dúvida a sensação foi de sucesso e o resultado superou nossas expectativas.

Se eu fosse dar apenas três dicas para quem está interessado em participar de uma game jam pela primeira vez, três dicas que contenham os pontos mais importantes para se ter em mente antes de começar, diria algo assim:
- Nunca se esqueça do tempo pré-determinado, ou, em outras palavras a solução mais simples é a melhor solução. Use os softwares que você tiver mais familiaridade e que satisfaçam suas necessidades o mais facilmente possível. Se encontrar um bug que não está quebrando o jogo, o ideal é contorná-lo ao invés de resolvê-lo (o que pode demandar um tempo não existente). Talvez o resultado final não seja exatamente o que você tinha em mente ao começar, mas se você fez o melhor que podia dentro do prazo, só há motivos para se orgulhar.
- O prêmio final é bom, sem dúvida, mas não faça dele sua meta principal. Entre para ganhar, mas lembre-se que o jogo que você produzir é eterno, é seu e é algo que você sempre terá. Aprecie a experiência adquirida e os bons momentos. O que me leva a...
- DIVIRTA-SE. Game jams podem ser realmente divertidas, além de proveitosas, pergunte para qualquer pessoa que já participou de uma. Entre nela com coração e mente abertos e o resultado certamente será enriquecedor - e possivelmente memorável.

Encerrada esta conversa, deixo aqui um link para quem quiser ver o resultado dessa game jam, cujo tema era "água", para meu grupo, AngryDevs: nosso jogo Densidade. Quem se interessar pode jogá-lo clicando aqui. Quem quiser nos ajudar na votação que vai fazer parte do processo de escolha do vencedor, é só clicar aqui e dar like nesta foto do Facebook (há também nessa galeria fotos e links para os outros jogos criados para a jam, alguns bastante interessantes).

E até a próxima com mais jogos indie =)

Densidade, jogo criado minha equipe para a game jam da Kolks Games.

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