terça-feira, 13 de janeiro de 2015

The Banner Saga - Um conto de neve, jogos políticos e estratégia


A mitologia nórdica não é nenhuma estranha para quem é fã de fantasia ou acompanha a cultura pop de maneira geral. Não é de se espantar: quando Tolkien escreveu O Senhor dos Anéis e toda a sua bibliografia ambientada na Terra Média, foi principalmente da cultura nórdica que ele tirou inspiração para criar sua própria mitologia. O legado da literatura tolkeniana se espalhou ao longo das décadas em outras obras de ficção, e elfos e anões se tornaram quase inclusões obrigatórias nas obras de fantasia. É claro, depois de anos de jogos, filmes, livros e tantas outras mídias utilizando as mesmas convenções quando o assunto era fantasia, muita gente começou a sentir um desgaste evidente no gênero.

O principal diferencial de The Banner Saga, jogo da desenvolvedora americana Stoic, é criar uma história inspirada nas lendas vikings que consegue ser inovadora e criativa apesar de dividir sua fonte de inspiração com tantas outras obras. Segundo seus próprios criadores, a intenção é que a experiência do jogo seja madura, baseada em tomar decisões difíceis e viver com as consequências. Para isso, os anões e elfos dão lugar a um mundo desolado que encara sua extinção iminente enquanto delicadas relações políticas podem decidir os rumos de tudo que virá a seguir.

Na história de The Banner Saga, mulheres e homens conviveram (nem sempre nos melhores termos) ao lado de gigantes chamados varls por gerações, até o dia em que os deuses que ambos cultuavam morreram misteriosamente e o sol parou no céu. Agora, ameaçados por um inimigo em comum, os dredge, lendários guerreiros de pedra que destroem tudo em seu caminho, humanos e varls precisam colocar as diferenças de lado e se unir para evitar o fim da própria existência. O jogo muda a ação de foco constantemente entre seus capítulos, colocando o jogador na pele das duas raças e tomando decisões delicadas. Paralelo a isso, durante todo o tempo você controla caravanas viajando de cidade a cidade, e cabe a você garantir que há suprimentos o bastante para toda a jornada - ou então as consequências podem ser drásticas. Suas escolhas têm peso na história, também, e muitas têm um impacto de vida ou morte sobre seus aliados.


Mecanicamente, The Banner Saga é um jogo de RPG estratégico com batalhas em turnos, similar a Fire Emblem e Final Fantasy Tactics (ou seja, aquele combate que lembra uma partida de xadrez). Como é típico do gênero, as lutas podem ser bastante desafiadoras e a jogabilidade pode se tornar bastante viciante - especialmente considerando que muitos RPGs de estratégia são um caso de "prática leva à perfeição" -, mas esses fatores também podem desanimar quem não for um entusiasta em particular desse estilo de jogo. Outro ponto de destaque é a arte do jogo, toda desenhada à mão e que lembra o estilo de famosos animadores como Don Bluth. Todos os cenários são ricos e bem trabalhados, tornando o jogo uma experiência visual fascinante.

The Banner Saga não é perfeito, ou melhor, apresenta muito espaço para melhorias. Se as mecânicas de jogo são sólidas, os inimigos e campos de batalha por outro lado são pouco variados, algo problemático em um gênero onde esses fatores se destacam, e a evolução dos personagens às vezes é um pouco rasa. No saldo geral, porém, é um jogo que vale a pena ser jogado por seus diferenciais, e com uma continuação já planejada para este ano de 2015, todos os seus eventuais problemas podem ser corrigidos e a narrativa complexa do jogo deverá ser expandida ainda mais. Ainda bem, pois The  Banner Saga é daqueles que mostram que há como inovar no que até pouco antes era lugar comum.

Gênero: RPG de estratégia
Data de lançamento: 2014, com continuação anunciada para este ano
Onde jogar: PC (Steam), Mac, Adnroid e iOS, com ports para consoles planejados para este ano


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